2013 foi o ano da Copa das Confederações no Brasil. Este ano, o evento ocorre na Rússia. Assim como ocorreu quatro anos atrás, o país do leste-europeu está vivendo protestos em massa contra a realização da Copa do Mundo. Com um governo com graves denúncias de corrupção e concentração de poder nas mãos de dois políticos, Putin e Medvedev, que alternam o poder entre si desde 1999, não é de se estranhar que a população repudie o evento, recebido com indiferença pelos russos, como mostra esta reportagem de O Globo. Ninguém mais cai no conto do legado da Copa do Mundo.
A Olimpíada de Inverno de Sochi, de 2014, está fresca na memória da população, que não esquece os 51 bilhões de dólares gastos na construção de um elefante branco enquanto há milhões de russos abaixo da linha da pobreza. Somente como comparação, o Brasil gastou R$ 38 bilhões com a Olimpíada do Rio e R$ 25 bilhões com a Copa do Mundo de 2014.
Legado da Copa do Mundo: crise e corrupção
Há muito se discute os benefícios para um país em sediar uma Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos. O alto custo de construção e preparação, além das isenções fiscais, tem potencial para arrasar economias. Foi assim com a Grécia em 2004, com o Brasil em 2014 e 2016, e provavelmente com a Rússia em 2018.
A formulação desses eventos pode ser definida como o alinhamento cósmico do desastre: estruturas corporativas com baixa transparência, governos burocráticos e distanciados do povo, gastos elevados, lucro alto para a imprensa e legislação especial para o evento. O que isso gera? Imposição de regras, nenhuma fiscalização e muito dinheiro jogado pela janela, ou dentro de bolsos.
A Fifa vive a maior crise de imagem de sua história, com dirigentes presos, confirmação de propina na escolha dos países sede e denúncia de trabalho escravo na construção de estádios. O Comitê Olímpico Internacional, confrontado com a devastação financeira do Rio de Janeiro, afirmou que vai rever o chamado “padrão olímpico” imposto às obras. Por que são bonzinhos? Não. Com a digitalização do mundo e o fácil acesso a informação, a população está mais consciente do risco que é sediar esse tipo de evento e pressiona seus governos contra isso. Isso aconteceu na Hungria, que retirou seu pedido para sediar as Olimpíadas de 2024.
Referendo popular é controle para o povo
O caso da Copa e da Olimpíada mostra a necessidade urgente da criação de mecanismos de referendo legislativo. Não é justo que uma decisão de um governo esvazie os cofres de um povo. Ao Brasil, desprovido de tal regulamentação, resta apenas correr atrás do prejuízo e de punição para os responsáveis. Ou seja, mais uma vez, esvaziamos o barco cheio de água ao invés de tampar os buracos.