Organização, persistência e foco contra a ditadura

De 2014 a 2016 a população viu crescerem os movimentos de rua e as vozes da sociedade se tornaram uma instituição tão relevante que resultou o impeachment de Dilma. Seriam políticos ou partidos que promoveram esses levantes? Não. Foram empresários, profissionais liberais, religiosos, aposentados e famílias inteiras. Pessoas comuns, como você e eu, apenas um ativista. Foram três anos de mobilização constante, focada, pacífica e, acima de tudo, organizada.

Enquanto os movimentos de esquerda eram comandados por partidos e políticos, e promovia, arruaça e depredação, a sociedade civil, sem representação, tomou o caminho certo do estudo, da organização, da ação coordenada, com muita tentativa e erro. Líamos livros e assistíamos a vídeos de mobilização pacífica, analisando-os e discutindo métodos e estratégias de movimentos de esquerda internacionais. Um dos principais cientistas políticos que nos influenciaram foi Gene Sharp, estudioso de diversos levantes populares contra ditaduras nos últimos 200 anos.

Ele descreveu de forma objetiva os primeiros passos para derrotar uma ditadura por meio de resistência pacífica, e um dos itens, constantes em seu livro “Da Ditadura à Democracia”, é justamente “Desenvolver um grande e sábio plano estratégico para a libertação e implementá-lo com habilidade”.  Planejar, organizar e mobilizar com constância e foco. Foi esse o caminho que adotamos antes e devemos retomar agora, e com a experiência adquirida criar novos modos de mobilização.

E quais seriam eles? Primeiro, qualquer movimento deve partir da sociedade, sem políticos nem partidos. Deve-se definir claramente as pautas e defendê-las, sem atacar pessoas, por mais malignas que sejam, nem instituições; as mensagens devem ser coesas e sem generalizações. O foco atualmente deve ser nos políticos do Centrão, que são mais maioria no Congresso, mas fracos, dependentes de recursos públicos e sempre traem a população para atender ao governo, que os compra com emendas e cargos.

Nesse sentido, os líderes dos movimentos devem ser exemplos de comportamento na política, ouvindo e tomando decisões democráticas, a partir de argumentos válidos que também prevejam reações contrárias. As reuniões para debates devem ser constantes, semanais ou quinzenais. 

As mensagens e informações para o público devem ser publicadas em todos canais possíveis, inclusive na grande mídia, a fim de evitar falsas interpretações, e todos os movimentos independentes precisam se alinhar, pois mesmo com linguagem e estratégia diferentes, será a união em prol de um objetivo que fará as ações reverberarem de baixo para cima, por isso é importante sempre documentar com fotos e vídeos.  Vigílias, passeatas, protestos, toda ação, por menor que seja, é válida.   

Recentemente, o ex-presidente Jair Bolsonaro convocou os brasileiros para saírem às ruas dia 25 de fevereiro.  Esse chamado pode ser uma nova oportunidade para os membros da sociedade civil de se reorganizarem. Quem sabe seja essa a motivação para uma mobilização mais permanente?