Artigo

Reintroduzindo Conservadores e Liberais no escopo político

Escrito por

Luiz Philippe de Orleans e Bragança

O impeachment é o divórcio da população com seu representante político. Um casamento, ou a união entre duas pessoas, normalmente fracassa devido a incompatibilidade entre as duas partes, seja ela emocional, moral, entre outros. Isso ocorre porque durante o cortejo, e também através do noivado, uma pessoa fala para a outra o que imagina que ela quer ouvir, não o que realmente pensa. Há também a questão dos hábitos. O cortejo expõe uma pequena parte de alguém, enquanto o casamento, e a convivência em tempo integral, exibe por completo a personalidade de alguém. O mesmo acontece com a política.

A forma como o sistema político é montado no Brasil reforça esse fenômeno. O primeiro fator é o distanciamento entre eleitor e eleito. Como adotamos um sistema presidencialista, eleitores de todos os estados deste imenso país votam no presidente. O mesmo acontece com a Câmara dos Deputados, já que utilizamos o sistema proporcional, pois um deputado pode coletar votos em todo estado. Os modelos politicos que adotamos não estão alinhadas com as proporções continentais do país e proíbem o contato próximo. Essa distancia faz com que as campanhas sejam feitas principalmente pela televisão. Programas políticos são gravados e transmitidos, sem a possibilidade do debate local ou do questionamento por parte do eleitor.

Nosso sistema eleitoral é montado para que nossos representantes sejam eleitos apenas com “cantadas”, e não com conversas e aprofundamento de relações, como acontece com o voto distrital puro. Nesse outro sistema político, explicado em maiores detalhes neste meu artigo, um deputado é eleito não por um estado inteiro, mas por apenas uma região. Em uma cidade grande como Salvador, por exemplo, teriamos um deputado federal eleito por um distrito que compreenderia, vejam só, não mais do que cinco bairros. Isso força o deputado a abandonar a campanha de televisão, que não pode ser segmentada, e partir para a campanha “porta a porta” e reuniões com os moradores. Isso traz proximidade e aprofundamento de ideias e posicionamentos.

Outro fator é a falta de opções de escolha. Embora partidos pro-economia de mercado estejam nascendo no Brasil, as maiores legendas são a favor da alta intervenção de Estado na economia. Ao priorizar a televisão, nosso sistema imediatamente marginaliza os menores partidos, que não têm recursos para a propaganda televisiva nem tempo de televisão. Isso constrói um péssimo cenário, pois dá ao eleitor a falsa sensação de escolha. Em maior ou menor grau, PT, PSDB, PMDB e PDT defendem as mesmas ideias e bandeiras políticas, herdadas do fascismo e socialismo dos anos 30 do século passado, e transformadas em populismo de vanguarda em terras brasileiras.

Ex-presidentes do Brasil ainda vivos. PMDB, PT e PSDB no poder desde 1994. Fonte: DW

Sempre que tentamos fugir dos termos esquerda e direita voltamos a usá-los de maneira errada. Vemos até políticos experientes se referindo a alguns partidos como sendo de direita quando são exatamente o oposto. Um dos pontos de meu livro “Por que o Brasil é um país atrasado?” é que os termos esquerda e direita precisam ser sempre ajustados, polidos e ampliados com o tempo. Vejo na atualidade que a esquerda deve ser reclassificada de duas formas, revolucionários e progressistas. O termo direita deve ser também ampliado em duas frentes, conservador ou liberal. Os revolucionários e os liberais ficam nos extremos do espectro, enquanto os progressistas e conservadores se aproximam do centro. O centro é um ponto imaginário que pressupõe as leis de nosso Estado de Direito. Mas como aponto no livro nossas regras de jogo estão tão à esquerda do espectro que somente partidos de esquerda sobrevivem. E com isso nossa estabilidade política não surge. No entanto para nosso bem os tempos estão mudando.

Tendo isto em mente, vamos analisar as eleições brasileiras nos últimos 23 anos:

1994: Fernando Henrique Cardoso (PSDB) x Lula (PT) = Progressistas x Radicais

2002: Lula (PT) x José Serra (PSDB) = Revolucionários x Progressistas

2006: Lula (PT) x Geraldo Alckmin (PSDB) = Revolucionários x Progressistas

2010: Dilma Rousseff (PT) x José Serra (PSDB) = Revolucionários x Progressistas

2014: Dilma Rousseff (PT) x Aécio Neves (PSDB) = Revolucionários x Progressistas

Lula e FHC em 1994.

Os últimos vinte anos de nossa política foram dominados por apenas dois partidos, PT e PSDB, com o PMDB servindo de coadjovante. Os outros trinta e tantos partidos com representatividade ficam restritos às casas legislativas. O executivo é território tucano e petista. O bipartidarismo não é um problema, ele até seria uma solução no caso do Brasil. O grande obstáculo evolutivo é que ambos os partidos dominantes no Brasil, o PT e o PSDB, pertencem ao mesmo espectro político. O bipartidarismo que dá certo é o que reúne antagonistas, como conservadores (republicanos ou liberais) e progressistas (trabalhadores ou democratas).

Embora tenha pessoas sérias em seus quadros, o PSDB é uma demonstração clara do que é errado na política brasileira. Há problemas (e culpas) internos, como o ambiente feudal, já que as lideranças são regionais e não abrem espaço para novos líderes e idéias, e também a hipocrisia, já que criticaram o PT pela defesa cega ao Lula e a Dilma, mas fizeram o mesmo com Aécio Neves e o caso da mala.

Outro problema em relação ao PSDB é externo e não foi causado pelo PSDB, embora ele se aproveite disso. O PT e a imprensa retratam o Partido da Social Democracia Brasileira como um partido conservador, liberal e de direita. Bobagem. O próprio nome da sigla, “partido da SOCIAL DEMOCRACIA brasileira” deixa claro a corrente política da legenda. Esse rótulo dá ao partido os votos de rejeição ao PT e a esquerda mais clara. O eleitor imagina estar votando na oposição ideológica, mas ele vota mesmo é apenas na oposição política. É o mesmo caso da China e da Coréia do Norte, ambas socialistas, mas inimigas politicamente por pertencerem a correntes diferentes do socialismo.

Espectro político baseado na auto-declaração dos presidentes dos partidos. Fonte: Veja

Essa situação nos levou ao momento atual. O Brasil está em crise política quase que matrimonial. As duas partes não convivem mais em harmonia. Isso acontece pois embora nossa base seja naturalmente conservadora socialmente, ela foi iludida a optar somente entre opções progressistas. A incongruência gera o claro sentimento de falta de representatividade vivido pela oposição ao socialismo.

É saudável ver a ascenção de partidos menores como o NOVO, com viés economico liberal, e do PATRIOTAS, de viés soberano e de cunho conservador social, exatamente por estarem mais em linha com um discurso que até agora esteve ausente dos quadros de representantes politicos. Esse novo discurso conservador liberal pode se tornar numa força capaz de ampliar o escopo do nosso monologo politico atual. O caminho para 2018 fica mais claro. Se as opções permanecerem as mesmas, a crise política tende a ficar ainda mais acentuada. Em outras palavras: se seguirmos votando de acordo com a dicotomia antiga não evoluiremos como nação. Nesse cenário tétrico, caso a ala esquerda ou a ala centro esquerda voltem a vencer em 2018, esse crescente movimento conservador liberal ficará mal representado e frustrado. Por isso ambas as opções PT e PSDB num futuro governo central gerariam instabilidade.

O caminho é a sociedade se expor às novas alternativas e votar de acordo com suas convicções, e sem ter vergonha. É interessante que o Conservadorismo e liberalismo sejam tidos como novidade, já que eles foram os atributos responsáveis pela construção de grandes nações. Caso os candidatos a presidência não representem essas opções, que nossos representantes na Câmara dos Deputados e Senado os representem para o bem de nossa estabilidade. Além de aprovar leis que representam a real base da nação, uma Câmara com essa proposta enfraquecieria um presidente progressista limitando sua capacidade de fazer bobagens. Mudar o viés politico da camara e do senado é a alternativa mais saudável para que paremos de depender de um salvador da pátria. Se não há quem faça as coisas certas, que pelo menos não se faça a coisa errada.

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